Introdução
A postura humana tem sido objeto de estudo
biomecânico, uma vez que desvios estruturais e funcionais de atitude causam
desequilíbrio no sistema corporal, levando à compensações que podem gerar
alterações em suas estruturas e funções.
Durante a puberdade a coluna vertebral cresce
mais rapidamente que os membros. Músculos e tendões nem sempre acompanham o
crescimento ósseo. O adolescente leva tempo para acomodar-se com o seu novo
corpo e, nessa fase de muita introspecção, sensibilidade e até vergonha do
corpo é comum uma postura encolhida, um andar desengonçado, uma certa
descoordenação dos movimentos. Sabe-se que as crianças são mais suscetíveis às
alterações posturais, pois encontram-se em período de crescimento e de
acomodação das estruturas anatômicas dos seus corpos.
Os hábitos da vida moderna contribuem para o
surgimento de dores musculares e sérios problemas na coluna vertebral. Dentre
as várias agressões ao nosso corpo, merece destaque a forma como os nossos
alunos estão sentando em sala de aula, carregando suas mochilas (Figura 1),
sentados à frente do computador, etc.
É necessário que urgentemente os alunos se
conscientizem da necessidade de rever suas posturas principalmente em sala de
aula, local onde passam boa parte do seu dia, e que tenham atitudes que evitem
lesões em suas colunas na fase adulta.
Neste contexto a Educação Física escolar,
torna-se um dos meios para a prevenção de deformidades na coluna vertebral,
através de suas atividades físicas orientadas por profissional qualificado.
Causas
dos problemas da coluna vertebral
Um dos maiores problemas que assolam os países
em desenvolvimento são os males da Coluna, que contribuem sobremaneira para
limitar a “vida ativa” de seus habitantes, tornando-os, na maioria dos casos,
precocemente incapacitados para o trabalho, interrompendo assim uma existência
produtiva e acarretando ônus social para o Estado.
No Brasil, estatísticas demonstram que há uma
parcela significativa da população acometida por esse mal. Os problemas da
coluna, em geral, devem ser detectados o mais precocemente possível, e, em
seguida, tratados.
A maioria dos Acometimentos Espinhais, segundo
Momesso (1997) são originados de “Forma Idiopática”; entretanto, como causa
discernível e de magnitude primeira, teríamos os já tão decantados em prosa e
verso “Vícios Posturais”, que poderiam ser ocasionados por:
a.
Traumatismos;
b.
Enfermidades;
c.
Hábitos;
d.
Debilidade muscular ou nervosa;
e.
Atitude mental;
f.
Herança;
g.
Indumentária inadequada.
Nesse contexto, faz necessário, primeiramente
definirmos postura, para podermos abordar mais adiante as deformidades na
coluna vertebral e suas formas de prevenção.
Postura
Definir Postura ideal é praticamente
impossível. Porém, para Momesso (1997) postura, é a atitude que o corpo adota,
mediante um apoio durante a “Inatividade Muscular”, por meio da ação coordenada
de vários ligamentos e músculos, que atuam para manter a estabilidade ou para
assumir a base essencial, que se adapta constantemente ao movimento a realizar.
A postura correta é caracterizada por um
equilíbrio dinâmico dos vários segmentos corporais nos planos sagital,
longitudinal e axial, nas suas mais variadas posições, caracterizando-se por um
máximo de eficiência fisiológica e biomecânica (ligamentar e
tendíneo-muscular), requerendo um mínimo de esforço e tensão (MOMESSO, 1997).
As articulações devem manter-se em bom
equilíbrio com o objetivo de proteger as estruturas (os músculos e ossos) de
traumatismos e deformidades.
A postura é incorreta e defeituosa, quando é
ineficiente ao propósito a que se destina ou quando um grande esforço é
requerido para mantê-la. O desequilíbrio dos segmentos corporais na posição
ereta nos planos sagital, longitudinal e axial podem conduzir à necessidade de
um trabalho muscular adicional para manter o equilíbrio (MOMESSO, 1997).
O aumento exagerado das curvas da Coluna
Vertebral advém de Posturas Viciosas, sendo desagradável do ponto de vista
estético e podendo causar problemas psicológicos.
Basicamente a má postura produz os seguintes
problemas posturais:
1.
No sentido ântero-posterior: Hiperlordose Cervical, Hipercifose
Torácica, Hiperlordose Lombar, Hipercifose Sacral.
2.
No sentido látero-lateral: Escoliose em ‘C”, Escoliose em “S”.
(MOMESSO, 1997, p.20).
Avaliação postural nas aulas de Educação Física
A avaliação postural se faz importante para que
possamos mensurar os desequilíbrios e adequarmos a melhor postura a cada
indivíduo, possibilitando a reestruturação completa de nossas cadeias
musculares e seus posicionamentos no movimento e/ou na estática. A partir deste
procedimento, estaremos com certeza promovendo a prevenção de muitos males
causados inicialmente pela má postura, fruto de ausência de controle e
informação. Para a avaliação postural podemos utilizar alguns materiais, nas
aulas de Educação Física, para melhor avaliar os alunos submetidos ao programa
de atividades re-educativas.
a.
Métodos objetivos: uso de radiografia (solicitada pelo médico que
acompanha o programa),fotografia.
b.
Métodos subjetivos: o uso do tato e da visão, observando o aluno
de costas, perfil direito, perfil esquerdo, frente e antero-flexão, à frente do
simetrógrafo. O aluno deverá estar em traje de banho, nas as aulas de Educação
Física, de maneira a favorecer a visão do observador para uma melhor
visualização das alterações posturais.
Devemos observar nosso aluno como um todo, pois
um desequilíbrio postural jamais se apresenta de forma isolada, portanto,
devemos estabelecer critérios de adaptação morfológica e funcional quanto ao
equilíbrio e a coordenação dos movimentos do corpo. Não importando o plano que
estaremos analisando, devemos estar associando sempre a linha de gravidade. Os
segmentos que não estiverem compatíveis com o eixo perpendicular ao solo
estarão em desequilíbrios (PROGRAMA POSTURAL, 2008).
Caberia, portanto, ao professor de Educação
Física, educador e agente de saúde conduzir seu trabalho com o máximo de
segurança fazendo uso para isso, de recomendações como: anamnese, observação e
orientação dos alunos. (BARBOSA, 1999).
O objetivo principal da avaliação postural na
escola é identificar os desequilíbrios mais evidentes a fim de evitar
prescrição de exercícios que possam vir a acentuar esses desequilíbrios. Mais
do que prescrever atividades físicas, a função do professor de Educação Física
é orientar.
Maus hábitos posturais
As posturas são mantidas, segundo Ribeiro
(1999), devido à coordenação neuromuscular, na qual os músculos envolvidos são
inervados através de mecanismos de reflexo.
A maneira de sentar-se de algumas crianças,
pode ter um efeito prejudicial, sobre a nutrição dos discos intervertebrais,
aumento na atividade muscular, entre outras conseqüências.
Embora algumas pessoas consigam sentar-se
confortavelmente e relaxarem muitas posições sem grande incremento na atividade
dos músculos, as pessoas tensas exibem um aumento pronunciado na atividade
muscular em várias posturas e durante a realização de tarefas, não relaxando
completamente em mais do que umas poucas posições. Quando os músculos espinhais
se contraem, apresentam um efeito compressivo sobre os discos intervertebrais;
conseqüentemente, contrações musculares excessivas durante solicitações
corriqueiras podem ter um efeito prejudicial sobre a nutrição dos discos, uma
vez que este é dependente da embebição de fluido que ocorre quando a compressão
é reduzida (RIBEIRO, 1999, p.31).
Em diversos países, crianças em idade escolar,
vêem apresentando um aumento considerável de dores nas costas a ponto de tal
situação ser tida como epidêmica, mais de 50% das crianças, à partir de 11
anos, tem ou já tiveram dores nas costas. Os fatores que levam a este aumento
são vários e cumulativos ao longo dos anos, fazendo com que 80% da população
adulta chegue a ser afetada por dores nas costas (TÉCNICA DE ALEXANDER, 2008). É
muito fácil observar uma criança de 4 anos de idade com uma bela postura
associada a agilidade e facilidade de movimento, elas estão o tempo todo
mudando o seu movimento de acordo com o seu humor. Elas não precisam ficar
imobilizadas em um lugar pré-determinado por um tempo definido (TÉCNICA DE
ALEXANDER, 2008).
Em contraste, quando a maioria das crianças
deixa a escola, a sua espontaneidade desapareceu, seus movimentos e atenção são
restritos e enraizados em hábitos posturais não conscientes. Os especialistas
enumeram vários fatores que contribuem para a formação destes maus hábitos
posturais. O primeiro deles é a imitação. O processo de aprendizagem na
infância se dá através da observação das pessoas à sua volta, dos hábitos
posturais dos adultos e das suas reações físicas e mentais às situações do
cotidiano.
Outro fator pode ser encontrado no medo, como
mecanismo de proteção físico e mental que a criança aciona ao longo dos anos
para lidar com as situações estressantes, incertezas e ameaça de fracassar.
Outra causa dos maus hábitos de postura e
movimento se encontra nas salas de aula: inadequação do mobiliário escolar à
criança, longos períodos sentados em sala de aula para cumprir a grade escolar,
peso das bolsas e mochilas com material didático, introdução do uso de
computadores, entre outros.
Todos esses fatores geram o desenvolvimento de
hábitos posturais prejudiciais que levam a desorganização do equilíbrio e
coordenação da criança, produzindo tensão muscular em excesso, ombros para
frente ou enrijecidos, costas arqueadas, dificuldade de atenção. Essa
interferência na coordenação tende a afetar a criança em todos os níveis de sua
vida. (TÉCNICA DE ALEXANDER, 2008).
Defeitos posturais
Para manutenção de sua forma da direção e
equilíbrio, a coluna conta com a força ativa da poderosa musculatura que a
envolve, e é formada por músculos intrínsecos.
Hipercifose dorsal – que pode ser dorsal ou
sacral, é um aumento da angulação convexa posterior da coluna, no plano
sagital, apresentando os ombros caídos que estão intimamente relacionados,
constituindo um desvio para frente da cintura escapular. Caracteriza-se pela
hipertrofia do peitoral maior com hipotonia da musculatura posterior do tórax
(rombóides maior e menor da porção média do trapézio). Angulação normal de 20 a
40 graus. É um exagero da curvatura dorsal fisiológica que geralmente é
compensada por uma hiperlordose lombar e cervical. A hipercifose dorsal pode
ser flexível ou rígida.
Hiperlordose – é uma curvatura exagerada na
região cervical ou lombar, acompanhada de inclinação da pelve para frente.
Hipertonia da musculatura da região lombar (musculatura pós-vertebral inferior
– psoas maior) e hipotonia da musculatura abdominal. Normalmente são mais
encontradas nas mulheres.
Dorso-plano (cifose lombar) – caracteriza-se
por uma diminuição anormal da curvatura lombar. Esta deformação está freqüentemente
associada aos ombros caídos, tórax plano e abdômen proeminente, caracterizando
o quadro clínico de fadiga.
Escoliose – é uma curvatura lateral da coluna.
Podendo ser estrutural ou não estrutural. A progressão depende em, grande
parte, da idade que ela inicia e da magnitude do ângulo da curvatura durante o
período de crescimento (MOE, 1994). Representa uma combinação de desvio lateral
e rotação longitudinal. Na maioria dos casos, os músculos do lado côncavo estão
debilitados. Isto se atribui ao desequilíbrio do músculo profundo
(semi-espinhoso, espinhoso e rotadores) que são as principais causas da má
postura ou deformação (PROGRAMA POSTURAL, 2008).
Segundo Silva Filho (1999), não existe uma
conscientização por parte de pais e filhos, das autoridades e de um grande
segmento dos profissionais da saúde, sobre a importância do tratamento precoce
para as deformidades da coluna vertebral em geral. Dificuldade esta que
constitui uma enorme barreira, pois não falamos só de leigos, mas também de outras
pessoas relacionadas à área da saúde.
Prevenção de deformidades da coluna vertebral nas aulas de
Educação Física
A conscientização de uma postura correta deve
ser iniciada nas crianças com idade escolar, pois o estilo de vida atual torna
as crianças mais sedentárias do que no passado, quando ao experimentar vários
tipos de brincadeiras, promoviam um maior equilíbrio tanto estático como
dinâmico, evitando grandes retrações musculares e fixações articulares.
As crianças e adolescentes têm uma grande
tendência a desenvolver essas retrações e fixações por causa do tempo em que
permanecem exercendo apenas um tipo de postura, principalmente na posição
sentada (estático), seja em frente do computador, dentro da sala de aula ou até
mesmo, em esportes (dinâmico) praticados nas aulas de Educação Física ou fora
delas, visto que uma postura errada causa, desequilíbrio, dor, desconforto,
desatenção, dificultando a concentração, o intelecto e, dependendo do caso, a
recusa em praticar esportes.
Os esportes mais praticados pelas crianças nem
sempre são uma garantia de que não desenvolverão algum problema de coluna. Se o
indivíduo praticar apenas um esporte durante um longo período, pode ficar
exposto a um desequilíbrio entre as cadeias musculares, como por exemplo, o
futebol que apesar de priorizar ambos membros inferiores, coxas e pernas, não
deixa de ser unilateral (chute com a perna dominante) além de não ser dada à
devida atenção ao receptor podal (pé), que é o principal responsável pelo
desequilíbrio sagital, pois é a base do corpo.
É necessário estar atento tanto na maneira que
o aluno senta e posiciona os pés (altura da cadeira), quanto na maneira como
ele se desloca (desequilíbrio dinâmico) na quadra, na pista, pois os pés são
chamados de “tampão central” e fazem a fixação final, além de terem a
capacidade de memorizar todo o desequilíbrio do corpo tentando, de uma forma ou
de outra, re-equilibrar a postura. Este sistema é, portanto, capaz de funcionar
em seu desequilíbrio, mas incapaz de corrigir-se sozinho (PROGRAMA POSTURAL,
2008).
A postura é uma posição ou a atitude do corpo
formada pelo arranjo relativo de suas partes para uma atividade específica; ou,
ainda, uma maneira característica de alguém sustentar seu corpo, orientada pela
força da gravidade. Por meio do controle de equilíbrio é que conseguimos
realizar, com um determinado padrão de eficiência, as atividades da vida
diária, de acordo com as nossas necessidades, destacando-se a importância da
manutenção da postura ereta para ações como a locomoção, manipulação de
objetos, entre outras.
O equilíbrio postural pode ser separado em
estático e dinâmico. A regulação estática refere-se às posturas estáticas,
enquanto que a dinâmica acontece durante a movimentação ou locomoção. Quando,
por qualquer motivo, funcional ou anatômico, desregula-se algum dos receptores
do sistema tônico postural, surgem informações anormais capazes de alterar o
fino equilíbrio do sistema. Desta situação anômala surgem esquemas corporais
alternativos, produzindo fenômenos posturais estáticos e dinâmicos
indesejáveis.
Os crescentes casos de crianças e adolescentes
que apresentam má postura devido ao sedentarismo, aliado às novas brincadeiras
tecnológicas, geralmente na posição sentada, justifica esta proposta, que
oferece uma intervenção para desenvolver uma atitude postural consciente, que
beneficiará futuramente o aluno tanto a nível intelectual, quanto físico
(PROGRAMA POSTURAL, 2008).
Conclusão
Podemos concluir que a postura ideal é um
pressuposto muito difícil de ser alcançado, sendo um dos maiores problemas dos
países em desenvolvimento, principalmente no que diz respeito às deformidades
da coluna vertebral. Em virtude disto, faz-se necessário um estudo mais
aprofundado das formas de prevenção, avaliação e identificação dos hábitos e
deformidades posturais dos alunos das escolas brasileiras, em especial da
cidade do Rio de Janeiro.
Neste contexto, o profissional de Educação
Física deve exercer um papel de extrema importância, pondo em prática seus
conhecimentos acadêmicos, na área da saúde, para promover o bem-estar social,
traduzindo em uma postura correta, com o objetivo de prevenir seus alunos e
conscientizá-los da importância da coluna vertebral para sua qualidade de vida,
a fim de que eles mudem seus hábitos, tendo também o professor o dever de não
promover somente o desenvolvimento psicomotor da criança, mas também o social e
psicológico, uma vez que conscientização e mudanças de atitudes precisam
caminhar juntas.
Referências
·
BARBOSA, C. L. de A. Educação
Física Escolar: da alienação à liberdade- Petrópolis. Rio de Janeiro:
Vozes, 1999.
·
MOE, J. e C. Escoliose
e outras Deformidades da Coluna. São Paulo: Santos,1994.
·
MOMESSO, R. B. Proteja
sua coluna. São Paulo: Ícone
Editora, 1997.
·
PROGRAMA POSTURAL. Disponível em:
www.programapostural.com.br, Acesso em 06 Jun. 2008.
·
RIBEIRO, C. das N. Análise
morfofuncional da coluna vertebral e suas posturas preventivas. Universidade Castelo Branco: Rio de
Janeiro, 1999.
·
SILVA FILHO, L. M. Fisioterapia
da Escoliose Idiopática. 1ª ed., Rio de Janeiro: EPUB, 1999.
·
TÉCNICA DE ALEXANDER. Disponível em:
www.tecnicadealexander.com.br, Acesso em 04 Jun. 2008.
AUTORES:
Rafael Valladão
Licenciado em Educação Física pela Universidade Castelo Branco (UCB/RJ)
Pós-graduando em Elaboração e Gestão de Projetos sócio-esportivos pela
UCB/RJ
Integrante do grupo de Cultura Corporal da UCB/RJ
Paula Fernanda da Costa Lima
Amanda Rodrigues Barroso
Licenciadas em Educação Física pela UCB/RJ
Graduandas do bacharelado em Educação Física pela UCB/RJ